Sabtu, 22 September 2012

DE TOMASO PANTERA: O SOM E A F�RIA

De Tomaso Pantera (foto Rafael Tedesco/AE)

Ent�o ali estava eu. Meus joelhos mais altos que o pequeno painel de instrumentos, minha cabe�a tocando o teto, minha m�o direita segurando o puxador de porta como se fosse uma corda que me impedia de cair para a morte certa. Tive medo de arrancar o danado do puxador de suas velhas fixa��es turinenses, mas apenas por uma fra��o de segundo, porque tinha medos muito maiores para me preocupar naquele momento espec�fico...

Atr�s do meu cotovelo esquerdo, ali a mil�metros da minha busanfa, praticamente dentro do habit�culo, um enorme, vocal, forte, onipresente 351 Cleveland urrava a plenos pulm�es. E n�o era s� um barulho in�cuo como o de um Gol com escape aberto, n�o, era algo s�rio e apavorante, que n�o apenas se ouvia, mas se sentia, como se vibrasse em resson�ncia cada fibra de meu ser, um avassalador berro gutural acompanhado de um empurr�o incrivelmente forte e sem fim, mesmo subindo a serra. Sim, est�vamos numa serra, cheia de curvas fechadas, e aquele saud�vel monstro atr�s de meu cotovelo empurrava um carro leve com nada menos que 40 anos de idade, rumo � primeira de uma s�rie de curvas fechadas. E meninos, eu estava apavorado...

Na frente do painel curto, e muito perto da minha cara, estava o p�ra-brisa. Depois dele o carro acabava quase que imediatamente. Podia ver o ch�o ali, pertinho, muito, mas muito perto mesmo. Perto demais. Eu n�o conhecia o carro ainda, e nem como dirigia o Renato, o dono e piloto. Pensava apenas que se ele tirasse o p� muito dentro da curva, o momento polar de in�rcia alto nos jogaria num sobrester�o dific�limo de controlar, e cair�amos no precip�cio capotando �de bunda�. Se freasse antes e desse motor, achei que os enormes pneus traseiros se juntariam a massa e a fant�stica for�a do Cleveland para deixar a dianteira leve o suficiente para um subster�o monumental, fazendo-nos cair no precip�cio de frente, numa imensa bola de fogo vis�vel de fora do globo terrestre. Certeza eu s� tinha uma: eu ia morrer uma morte espetacular e cinematogr�fica, e aparecer em todos os jornais do dia seguinte. Vi S�o Pedro puxando minha ficha num arm�rio dourado, vi sua cara de desaprova��o com o que estava escrito l�. Pensei na hora que se eu morresse me divertindo a 500 km de casa, minha esposa ia me matar. Ia ser o primeiro sujeito a morrer duas vezes no mesmo dia!

Foto: Rafael Tedesco/AE

Mas meus medos se mostraram infundados. Perto da curva o Renato habilmente reduziu uma marcha igualando as rota��es, entrou dando motor na curva (o tradicional m�todo para motor traseiro), e o carro apenas a contornou sem drama algum. R�pido, sim, r�pido pacas, mas ainda assim sem sustos ou v�cios. Quase nem cantou pneu, apenas assentou e contornou a curva, d�cil feito um carneirinho felpudo. N�o vou dizer que relaxei a partir dali, porque a velocidade n�o permitia que nenhuma parte de minha anatomia relaxasse, pois o resultado disso seria catastroficamente escatol�gico. Mas pelo menos passou pela minha cabe�a uma pequena possibilidade de que, talvez, quem sabe, existisse uma chance de permanecer vivo para ver outro dia.
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